Title
I'm a paragraph. I'm connected to your collection through a dataset. Click Preview to see my content. To update me, go to the Data Manager.

You can get more out of your site elements by making them dynamic. To connect this element to content from your collection, select the element and click Connect to Data. Once connected, you can save time by updating your content straight from your collection—no need to open the Editor, or mess with your design.
Add any type of content to your collection, such as rich text, images, videos and more, or upload a CSV file. You can also collect and store information from your site visitors using input elements like custom forms and fields. Collaborate on your content across teams by assigning permissions setting custom permissions for every collection.
Be sure to click Sync after making changes in a collection, so visitors can see your newest content on your live site. Preview your site to check that all your elements are displaying content from the right collection fields. Ready to publish? Simply click Publish in the top right of the Editor and your changes will appear live.
O PRODÍGIO DE SAINT DENIS

1357-1358 d.C.
Abaixo encontram-se fragmentos das anotações deixadas por Axel, um dos integrantes da caravana oriunda das regiões do Sacro Império Romano-Germânico. Elas provavelmente foram escritas por volta de 1357-1358, durante o reinado de Carlos IV e o papado de Inocêncio VI. Os documentos foram transcritos e traduzidos para a língua portuguesa pelo paleógrafo e medievalista Dr. Richard Francis Stunderbartding em 2015. A íntegra dos documentos se encontra no Arquivo Total e Central da Cidade de Lisboa, em Portugal (Setor de Documentos Microfilmados, Código de Referência 12SFGG5676, Caixa 56, Livro 124, Pasta 123-150).
“Saímos de um lugar chamado de Hamborg. Um lugar muito diferente e muito bonito. Passamos por um lago. Nesse lago estava o nosso barco. Havia redes e pescadores nesse lago com outros barcos. Estamos no início do verão. Fomos em direção ao mar por um rio chamado de Elba. Eu nunca tinha visto um rio tão grande com águas tão agitadas. Deus Seja Louvado! Aqui as árvores também são grandes e os bosques por onde passamos são grandes também, e são bonitos e belos. O vento por aqui é fraco. O sol aparece cortado sempre no além. As águas são escuras. O céu está sempre amarelo da cor de ouro, de ouro como os querubins dos céus. Que Deus Cristo abençoe nossa caravana. Eu sinto falta de ti, minha querida Emma. Sinto falta de nossa pequena Alícia. Foi a peste que enfermou Alícia e que trouxe-me até aqui. Que nosso Deus perdoe-me! Que consigamos alcançar nosso objetivo! Estou em pecado. Que nosso Deus proteja-nos. Deus Cristo, abençoe-nos. Tenho fé que sirvo a Deus. Óh, Deus, proteja-me! Proteja minha Emma. Proteja Alícia. Tenho fé na Sua salvação. Mas tenho dúvidas também. Estou em pecado. Óh, Deus, temo! Óh, Deus, temo! Óh, Deus! Temo! Sei que estou em pecado nas minhas dúvidas. Mas é certo matar pessoas? É certo matar o beatíssimo?”
“Chegamos pelo mar no reino da França! Estamos no fim do verão e nesse momento é que chegamos nesse reino. Aqui as fazendas são grandes. Os cavalos são grandes e usam um tipo de corda ou cinta no pescoço quando fazem a aragem das terras. Mas eu não entendo como isso pode ser bom na aragem das terras. Em alguns locais eles possuem moinhos grandes e bonitos. Mas não são moinhos de água, são moinhos de vento! De vento! Deus abençoe! A tempestade já dita os rumos dos céus por muitos dias. Chuvas, trovões e raios. Parece que é nosso Deus dando-nos ralha diante do que planejamos fazer. Óh, Deus! Nesse momento, ainda chove. Mas mesmo chovendo eu acho tudo tão belo e tão bonito, pois sei e tenho fé que Deus faz tudo certo! Não devemos contestar o que Deus faz. Isso é virtude! Óh, Deus, sou Teu servo! Sei que Tu me salvarás. Hoje eu vi um Anjo do Senhor voando pelo firmamento. Sinal de Deus! Tempo do juízo. E assim está no Apocalipse – E o terceiro Anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes das águas, e se tornaram em sangue. Óh, Deus, abençoe-me! Que nosso bom Deus, Cristo, Jesus salve a alma de Heimirich. Chorei o dia todo. Perdemos Heimirich para a peste. Ele era um fiel integrante de nossa bendita caravana. O padre Adalbert, ainda dentro do barco, veio novamente falar comigo. Num tom de voz sempre agressivo. Relembrou nosso segredo. Reviu os planos. Quis ver o pote de veneno que eu guardo comigo. Brigou e gritou. Tenho raiva! Acredito na bondade! Óh, meu bom Deus! Não é certo matar pessoas! Mas não tenho coragem de contrariar padre Adalbert. Óh, bom Deus! Padre Adalbert ensinou-me a ler e a escrever. Ajudou-me desde pequeno. Tenho consideração. Tenho raiva também. Mas eu não sei o que fazer. Se tu estivesses aqui comigo, minha querida Emma, decidiríamos juntos! Não é? Tenho medo que Ele se afaste de mim devido a minhas dúvidas e meus medos. Óh, Deus! Salve-me!”
“Estamos num lugar chamado Calais. Eu nunca tinha visto um lugar com um mar tão agitado e bonito. Muralhas grandes e valas grandes defendem as cercanias de Calais. A obra de Deus é bela e boa. Óh, Deus misericordioso! Que Deus abençoe-nos. O líder de nossa caravana, o sempre digno e bom cardeal Ernesto, acredita que esse seja o melhor caminho, seguro e protegido. Todos rezamos aos pés da Cruz de Cristo. Aceitamos essa decisão como uma revelação divina. Deus é honra, é pai e é o espírito! Deus está sempre guiando-nos pelo caminho certo. Depois da oração, descemos do barco que trouxe-nos até aqui e fomos por uma estrada na direção de um lugar que possui florestas com árvores grandes, folhas e frutos grandes e raízes poderosas. Nesse lugar havia uma grande igreja com torres pontiagudas. Essa igreja era da Ordem dos Irmãos de Cristo que vivem aqui. Com eles pegamos vinte cavalos e cinco carruagens e também carroças. Óh, Deus! Cristo! Projetas Tu essa Ordem dos Irmãos, e que continuemos vivos na Sua bendita sabedoria e misericórdia. Estamos novamente fugindo da fome e das mazelas. A besta nos persegue! Encontramos novamente a guerra. De dentro das carruagens vimos pedras gigantes sendo jogadas por uma tal engrenagem que aqui eles chamam de trébuchet. Foi a arma mais poderosa que eu vi. Deus abençoe! Por vários sábados estamos fugindo. Desviamos nossa rota a todo momento e, às vezes, tenho dúvidas. Óh, Deus! Tenho dúvidas se estamos no caminho certo ou se estamos perdidos. Óh, Deus misericordioso, tenha piedade de minhas dúvidas. O digno e bom cardeal Ernesto determinou a separação de nossa caravana em duas para despistar os bandos de saqueadores e dos guerreiros, das bestas demoníacas que nos perseguem. Assim foi feito. O demônio nos persegue por todos os lados e em todos os lugares. Que Deus proteja-nos. Nossa caravana continuará sua viagem à Santa e Sagrada Cidade de Avignon, apesar de todas essas provações divinas e de já termos perdido três dos vinte integrantes de nossa sagrada caravana: o cardeal Enzo e o padre Leon morreram dois dias antes do último dia de sol. Óh, Deus! Salve-os!”
“Deus! Tu és sempre bom! Estamos numa comuna chamada de Clermont. Essa comuna fica nos arredores da tal cidade que chamam de Paris. Devido ao frio, paramos por três sábados seguidos. Recebemos relatos que a outra parte de nossa caravana se perdeu pelas matas e foi atacada por ladrões e saqueadores. Dizem que foi a besta! Todos eles foram mortos! Óh, Deus! Tenha misericórdia! Eles estavam a três dias de onde estamos agora. Deus perdoe e proteja a alma dos nossos Irmãos em Cristo. Estamos em oração e em luto permanente. Ainda não temos condições de continuar. O bom e digno cardeal Ernesto, o mais sábio dentre nós, está enfermo, mas mesmo assim ele ainda insiste que continuemos. Diz cardeal Ernesto que temos tempo, pois a reunião dos cardeais com o Beatíssimo Papa, o dito Sagrado Consistório Extraordinário, está previsto para o próximo verão. Deus abençoe o Beatíssimo Papa. Rezo todos os dias para que as graças do bom Cristo Deus e da Santa Igreja, junto aos Anjos do céu, possam curar o bom e digno cardeal Ernesto e minha amada filha Alícia. Que ela ainda esteja viva quando eu retornar depois de cumprir com minhas obrigações e realizar esse plano maléfico que padre Adalbert insiste em fazer. Óh, Deus! Eu estou com alguma enfermidade. Isso já dura por dois sábados. Salve-me! Mas eu ainda continuo realizando todas a minhas tarefas. Com a morte de Heimirich, agora somos apenas eu e Oriel que lavamos as batinas, fazemos as comidas, limpamos os utensílios. Tudo para o nosso bom e eterno Cristo Deus. Oriel continua manco de uma perna. Sinto falta de ti, minha Emma! Rezamos todos os dias e todas as noites. Alegro-me a cada dia que passa por ter Deus ao meu lado. Existem muitas pessoas por aqui nesse lugar, nessa comuna chamada de Clermont onde estamos parados. Nunca vi tantas pessoas! Elas possuem trajes diferentes dos nossos. Comem poucas vezes ao dia. Eu não entendo! Deus abençoe-as. Eu vejo sempre muitas pessoas mortas e os muitos corpos que padecem e apodrecem! O que será dessas almas sem Ti? Óh, Deus! Mas devemos aceitar o que é bom e justo. Devemos rezar a Deus, nosso Cristo. Orar todos os dias e agradecer por tudo que passamos, pois Deus assim sabe e Ele quer que aconteça assim. Suas obras são sempre justas e misericordiosas. Rezamos para que as almas dos mortos nas pestes e nas guerras sejam protegidas por Deus e possam ressuscitar no dia do juízo.”
“Sonhei com minha querida Germânia. Sonhei com as terras de tio Carl e tia Louise. Eles amaram-me como se fossem meus verdadeiros pais. Sonhei com as galinhas e com as ovelhas, as plantações de maçãs e cenouras. Sonhei com Emma e Alícia. Óh! Que maravilha de Deus! Que Cristo abençoe-nos.”
“Padre Adalbert veio falar comigo e novamente falou daquele plano maldito. Disse que temos que fazer aquilo que fomos determinados para cumprir e realizar, a nossa missão que foi-nos confiada em nome do verdadeiro Deus e do maior dos homens, do nosso Imaculado Rei. Depois que o sol saiu do alto do firmamento, cardeal Ernesto, bondoso, sábio e digno, falou para as pessoas daqui desse lugar a pedido do padre Émile. Padre Émile é o líder da Ordem dos Irmãos de Cristo da Igreja da comuna de Clermont. Ele é um homem bom. A batina de padre Émile tem um cheiro de terra e cebolas. Deus abençoe-o. Padre Émile é bem alto e tem orelhas enormes e pontiagudas. Oriel deu risada disso e eu dei-lhe uma ralha! Deus perdoe Oriel. O bom e digno cardeal Ernesto é bem baixo, não tem cabelo na sua cabeça e teve dificuldades de subir no palanque, pois ainda está debilitado, com uma tosse que nunca para e com sua idade muito avançada! Que Deus abençoe o bom e digno cardeal Ernesto. Digo o mesmo para padre Émile. Escutamos ajoelhados e atentos o que cardeal Ernesto falou sobre o Saint Denis. Que nosso Deus proteja-nos.”
“Óh, Deus misericordioso! Agradeço-lhe pela honra de ver o Seu verdadeiro poder. O Prodígio de Deus! Um sinal dos céus! Que o bom Deus abençoe. Que Ele seja louvado. Seu poder e Sua misericórdia. A presença do Seu maravilhoso. Seu eterno! E assim João escreveu: E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão.”
“Hoje de manhã fomos de Clermont em direção a um lugar chamado de Beauvais para visitar a igreja da Ordem dos Irmãos de Cristo que existe nessa comuna. Na estrada que une as duas comunas fomos parados por um grupo de lavradores. Disseram esses lavradores que, devido aos preços e taxas sobre o uso das terras, eles haviam então iniciado uma briga contra os nobres dessa região. Alguns desses lavradores estavam montados em cavalos e outros estavam sem cavalos. Alguns estavam segurando tochas, foices e machados e outros não. Dois deles carregavam panos pendurados em madeiras com desenhos que eu nunca tinha visto e que pareciam uma flor-de-lis azul. Disseram eles, os lavradores, que as propriedades dos nobres estavam sendo destruídas e que eles já haviam avançado pelas comunas chamadas de Senlis, Amiens, Champagne e os arredores de Corbie, Montdidier, Coucy, Soissons, Noyon, Corbiois, Vermandois, Valois e Clermont. Os tais lavradores, homens e mulheres com corpos muito magros, mas não entristecidos, gritavam algo parecido com Montjoie et St. Denis! Eu acho que era esse o grito, mas eu não entendo o que esse grito significa. Padre Adalbert ouviu os camponeses e desdenhou. Continuou sério com seu corpo alto, magro e de pernas e braços longos. Padre Adalbert andava com passos rápidos e estava preocupado com o demoníaco plano. Aproveitou a parada e veio falar novamente comigo. Disse que se um de nós dois morrêssemos ali era para que o outro continuasse a missão sozinho. A missão de usar o veneno para matar o beatíssimo. Óh, Deus! Eu disse que talvez não devêssemos fazer essa missão. Padre Adalbert deu-me um tapa no rosto e disse-me que eu deveria pedir perdão ao Imaculado Rei. Chorei de raiva e ódio. Se tio Carl soubesse quem é o padre Adalbert de verdade, nunca que teria deixado eu vir nessa caravana. Mas meu tio possui tantas dívidas nas suas terras. Possui tantas taxas a serem pagas a padre Adalbert.Talvez esse seja o único erro de tio Carl. Perdoe-me! Perdoe-me! Óh, Deus! Perdoe-me pela minha blasfêmia, por ter contestado padre Adalbert. Por ter pecado! Óh, Deus! Glória e júbilo! Amém. Orei até o sol aparecer no ponto mais alto do céu.”
“Durante a parte da tarde, soubemos ainda na estrada, por uma camponesa muito magra, que trazia o nome de Francine, que os nobres estavam planejando uma vingança. Disse essa tal Francine que os lavradores e camponeses foram surpreendidos por poderosos cavaleiros na cidade de nome Meaux. Os camponeses estavam tentando abater um tal Castelo de Marche que existe nessa cidade de Meaux.”
“Deus abençoe! Cardeal Ernesto é bom, sábio e digno todo o tempo. Ele se compadeceu com a situação e ordenou que fossemos até uma cidade chamada de Mello. Nessa cidade de Mello deveríamos avisar os camponeses e evitar outras mortes. Resignados, fomos até o nosso destino. Depois de um longo tempo chegamos nas cercanias da cidade de Mello. As entradas para essa comuna estavam fechadas. Tivemos ajuda de alguns moradores e Irmãos da Ordem de Cristo que vivem lá. Subimos por uma encosta, um morro, por um caminho pela mata, mesmo com todas as dificuldades. Chegamos ao alto de um monte. No alto desse monte observamos toda a comuna e conseguimos ver tudo que aconteceu. Uma obra de Deus!”
“O sol já estava perto do além. Do alto da colina de Mello, observamos um homem grande, montado num grande e robusto cavalo preto, com grandes e bonitas selas de madeira vermelha acolchoadas com forro azul e dourado de uma forma que eu nunca havia visto. Esse homem grande possuía uma armadura cinza que brilhava muito e uma grande lança que brilhava muito também. Numa das mãos ele segurava uma cabeça cortada. Deus Seja Louvado! Disseram que esse homem tinha o nome de Carlos II e que por aqui chamam-lhe de Rei de Navarra. Esse tal Rei de Navarra tinha cortado a cabeça de um homem. Disseram que esse homem era o líder dos camponeses e de toda essa revolta. Chamam esse homem de Cale. O tal Rei de Navarra trazia majestoso e orgulhoso a cabeça ensanguentada do lavrador Cale nas mãos. Vários outros camponeses estavam tendo suas cabeças cortadas a mando dos nobres e desse tal Rei. Rezamos ajoelhados aos céus diante de tal crueldade. Que Deus Cristo abençoe e tenha misericórdia das almas desses homens mortos. Ali no alto do monte todos nós começamos a orar e a rezar. Foi então que o Prodígio de Deus aconteceu. Toda honra e gloria a nosso Deus!”
“Diante de todos os nossos irmãos um grande relâmpago de cores bem fortes, que juntava um verde forte e um amarelo forte, cobriu toda a comuna de Mello até o além. Relâmpagos, trovões, raios desceram do firmamento. Uma fumaça rodeada por fogo cobriu os corpos sem cabeça daqueles homens e depois a luz mudou para laranja e vermelho. Havia uma fumaça que queimava nossos olhos. Foi então que observamos que através da névoa os tais camponeses sem cabeça levantaram-se. Um a um, eles deixaram o chão e como um sopro divino, uma honra e glória de Deus, uma ressureição de Cristo, eles novamente começaram a caminhar. Caminhar com seus pés sobre a terra. Eles estavam ressuscitados! Ressuscitados! Igual a São Lázaro da Betânia! Que Deus abençoe! Aqueles homens ressuscitados e que estavam sem cabeça foram atrás de suas cabeças cortadas. Cada um daqueles homens pegou a sua cabeça e em fileira caminhou segurando a cabeça em seus braços. Igual a Saint Denis! Uma luz clara saía das suas cabeças. A luz era tão forte e tão bonita, um azul cristalino e celestial, que todos os nobres nessa hora colocaram seus fortes e robustos braços em seus redondos rostos, escondendo seus enormes olhos. Muitos caíram dos seus cavalos. Outros ajoelharam e pediram perdão aos Anjos dos céus. Outros recuaram. Outros desistiram e foram embora. Muitos outros fugiram. A luz divina caminhava fazendo com que os nobres restantes recuassem até as cercanias da cidade. Nesse momento, os falecidos, os ressuscitados, os descabeçados, formaram em volta de si um tipo de muro que ninguém conseguia ultrapassar. Eles mexiam as suas bocas e de dentro delas o verbo se fazia por vir. Era um tipo de som, uma voz, uma voz divina que revelava uma ladainha que se espalhou por todo o lugar. Era uma mistura de luz e cântico, como Espíritos de Deus que trazem vozes e fogo, um fogo divino e angelical que envolveu os camponeses, que foram andando para fora da comuna. Aqueles homens sem cabeça, então, como Anjos protetores, acompanharam os camponeses vivos, levando-os em segurança até a igreja do Saint Denis. Lá já não havia perigo e nenhum guerreiro nobre. Depois que todos os camponeses entraram dentro do campanário, os corpos daqueles homens sem cabeça se juntaram num tipo de roda iluminada, que era bonita e bela. Os vultos brancos e rosados saíam de seus corpos. Por fim, aqueles homens sem cabeça caíram no chão. Elevaram-se suas almas abençoadas ao firmamento. Deus Seja Louvado! A misericórdia de Deus! Um Prodígio de Cristo! Por todo esse momento, essa benção, espiritual e santificada, essa revelação de glória, de júbilo, nós ficamos em oração no monte. Ajoelhados e emocionados.”
“Minha querida Emma. Ontem, Deus em toda a Sua bondade fez-nos ver o verdadeiro valor da vida e da morte. A misericórdia de Deus é bendita na Sua virtude, na Sua glória, na Sua justiça e maior do que tudo nesse mundo. As pessoas de bem sabem disso, e quem viu hoje o Prodígio de Deus tem certeza disso. Por aqui e por toda essa região, dos miseráveis e pedintes, dos hereges e dos fiéis, pobres e ricos, de toda essa gente, do campo e dos nobres, dos humildes e dos servos, fala-se no sinal Dele, no Seu maravilhoso que veio dos céus. Óh, bondoso Deus. Sua misericórdia divina! Assim, celebra-se por todo sempre O Prodígio de Saint Denis.”
“Minha amada Emma! Hoje eu entendi tudo. Que nosso Deus Cristo perdoe-me e salve-me. Eu tenho outros planos. E assim Tiago escreveu: Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e a misericórdia triunfa do juízo.”
“Minha querida Emma! Amanhã a caravana continuará para a Santa e Sagrada Cidade de Avignon para o Sagrado Consistório Extraordinário. Deus proteja a nossa caravana, que continuará mesmo com as mortes de alguns de seus importantes irmãos em Cristo. Eles avançarão. Eu não. Por tão longe que estejamos, nosso Cristo nunca abandona-nos, nem nos nossos profundos princípios e crenças. Mesmo que distantes de todas as razões que fazem sentido em nossas vidas. Amo-te, Emma. Amo-te, Alícia. Amanhã finalmente retornarei. Voltarei a vê-la, minha amada Emma! Levo comigo uma carta de recomendações ao nosso Imaculado Rei para que Ele socorra nossa filha Alícia. O sábio, bom e digno cardeal Ernesto foi quem escreveu essa carta, pois ele acredita que eu não tenha serventia na caravana depois que padre Adalbert foi encontrado morto, envenenado.”
TEMPO HISTÓRICO: IDADE MÉDIA
ESPAÇO GEOGRÁFICO: EUROPA - FRANÇA
DATA DE PUBLICAÇÃO: 14/07/2024
AUTOR: FABIO GOMES
REVISÃO HISTÓRICA: LUCAS MELO
REVISÃO: CIAENTRELINHAS
ILUSTRAÇÃO: www.canva.com / @diversifysketch / @pixabay