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O PORTAL DA TRINCHEIRA

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1916 d.C.

                Uma lua gibosa vagava sozinha no céu. Não havia nuvens. No chão, profundos túneis repletos de curvas tristes e finitas, de sombras e penumbras, conversavam com as trevas e zombavam do medo. Homens fumavam, resmungavam e pareciam misturar seus corpos cansados ao furor dilacerador do aço das armas, dos arames e de dezenas de sacos de areia. As paredes das valas falavam uma estranha língua úmida, que tinha cheiro de sangue e morte. Um soldado inglês, George, enlameado e desolado, andava pelos becos cinzas das trincheiras enquanto levava nas mãos o seu Lee-Enfield, um rifle de estimação. Em uma curva o soldado viu uma forte luz se abrir em uma das paredes de terra à sua frente. Assustou-se. Era o portal da iluminação e esperança, triangular, de coloração vermelha e lilás. Ele preparou e apontou. Na imagem que se abriu, do outro lado do portal, estava Cléver, um soldado alemão com seu rifle, um Mauser M98G 7.92 mm, preparado e apontado. Na hora, assustados e admirados, os dois soldados riram um para o outro e abaixaram as armas. Um sorriso honesto e sincero. Ali, naquele instante, os dois perceberam, um no outro, um coração cheio de histórias, memórias, desgraças e frustrações. Viram o terror e a destruição. Foi como se o tempo parasse. E, de fato, parou, subordinado à figura etérea daquelas fardas que sorriam através de mentes ensanguentadas. Eles ficaram ali congelados até que um deles atirou e, então, o portal da iluminação e esperança se apagou.

TEMPO HISTÓRICO: IDADE CONTEMPORÂNEA 1

ESPAÇO GEOGRÁFICO: EUROPA 

DATA DE PUBLICAÇÃO: 22/01/2024

AUTOR: FABIO GOMES 

REVISÃO:  CIAENTRELINHAS

ILUSTRAÇÃO: www.fantastorica.com / www.canva.com / OpenClipart-Vectors

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